sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Natal e os Correios




Ontem fui ao Correio despachar um presentinho para meu amigo secreto que mora muito longe da minha cidade.
Já fui preparada psicologicamente para enfrentar uma fila imensa. Preferi ir no horário de almoço imaginando encontrar trabalhadores apressados em razão do pouco tempo. Seria tudo muito rápido.
Fui a 15ª de uma fila que esperava ser maior. Fiquei feliz! Logo cumpriria minha missão.

Assim que chegou um rapaz atrás de mim, pedi que guardasse meu lugar e fui perguntar no balcão de atendimento se para pegar a caixinha para acomodar o presente precisava ficar na fila. Ela me respondeu que sim. Então voltei e fiquei aguardando.

Comecei então a analisar o cenário. Havia 4 guichês de atendimento, porém somente dois funcionavam. O local onde se despacha grandes pacotes estava fechado. As pessoas ficavam segurando incomodamente seus pacotes, enormes, que precisavam ser apoiados no chão.

No primeiro guichê estava sendo atendida uma mulher aparentando seus 30 anos, muito atrapalhada, deixando cair a bolsa no chão, a caneta... No segundo guichê estava um senhor despachando um pacote enorme. Antes mesmo de ele acabar de ser atendido chegou outro rapaz, com vários pacotes e se posicionou ao lado do guichê 2. Tão logo o primeiro saiu entrou este que nem na fila estava. A mocinha do atendimento justificou que ele já havia estado ali e por isto teria preferência. Ficamos todos calados.

Ela atendeu este e mais outro que chegou com a mesma alegação. Enquanto isto a mulher atrapalhada continuava lá e todos nós da fila, ali, parados no mesmo lugar.

Enquanto o segundo guichê atendia todos os “fura fila” que já haviam estado nela, veio um rapaz lá de dentro do Correio e pediu para que a atendente assim que acabasse de atender o rapaz, fosse lá dentro.

Confesso que não gostei nada de ter ouvido isso. Ela era, naquele momento, nossa esperança de atendimento. Fazia dez minutos que eu havia chegado e continuava a ser a 15ª da fila. A primeira da fila “bufava”, se abanava, fazia caras e bocas, mas de nada adiantava.

Chegou então o momento da mulher atrapalhada do guichê 1 pagar pelo serviço. Ela então tira o talão de cheques da bolsa e diz que ser a primeira vez que iria preencher um e pediu para que a atendente lhe ajudasse. Ela muito solícita, começou a explicar para que servia cada item constante na folha. A aluna atrapalhada, muito interessada, fazia muitas perguntas sobre por que ter o número da agência, se ela precisaria decorar o número da conta, se cada talão terá um número específico, e outras perguntas muito pertinentes, principalmente num guichê de correio. Após tantas perguntas inicia o preenchimento do cheque. Escreve a quantia e pergunta se está certo. Pede para a atendente lhe ditar o extenso, e assim vai até chegar na assinatura e ela dizer que estava muito nervosa com medo de errar.

Neste momento fiquei imaginando se isso estava realmente acontecendo e se caso fosse verdade, se eu havia entrado no túnel do tempo e ido para no século XIX.



Eis então que volta a segunda atendente. A primeira da fila inicia sua caminhada quando é alertada que ao seu lado havia uma senhora, de cabelos brancos, e que teria preferência. Nem eu havia visto esta senhora, afinal todos estávamos com a atenção voltada para a hilária moça do cheque.

A senhora, agora no guichê 2, deposita a chave do carro em cima da bancada e pede para ver os cartões de Natal. A atendente pega um maço e coloca no balcão. A senhora começa a espalhá-los a fim de facilitar a escolha. Ela olha demoradamente cada um e pede a opinião da atendente sobre qual é o mais aconselhável para enviar ao genro, a uma tia velhinha e outros familiares.

Neste momento sinto que minha paciência começou a dar sinais de esgotamento. Olhei no relógio e constatei que estava há 28 minutos na fila sem dar seque um único passo para a frente.

Eis que a moça atrapalhada começa a guardar na bolsa tudo que havia tirado e espalhado em cima do balcão. A primeira da fila ensaia, mais uma vez, seus passos e finalmente segue rumo ao guichê. Entre encostar, ser atendida e ir embora não levou mais do que 30 segundos. Agora eu já era a 14ª e a fila começa a andar.
Depois de 50 minutos de fila chego finalmente no balcão e peço a caixinha nº 2 para poder acomodar o presente. Ela me informa que estão sem caixas pequenas e que a única caixa que tem é a de número 6. Neste momento sinto meu sangue ferver e digo tentando controlar a voz para não parecer grosseira:
- Por quê você não me falou isso quando vim lhe perguntar sobre as caixinhas?
Ela então me respondeu: - Mas a senhora me perguntou se era aqui que pegava as caixinhas, não me perguntou se tinha todos os tamanhos.
Eu, tentando não perder a compostura lhe respondo: - Mas vou imaginar que numa época de Natal, ocasião em que as caixas são mais procuradas, não vou encontrá-las? Se vocês obrigam o uso das caixas de vocês, não podem ficar sem tê-las.
- Sinto muito! Me respondeu ela.
- E agora, o que faço. Posso colocar num saquinho de Sedex? Perguntei tentando resolver o impasse.
- Infelizmente este objeto tem que se acomodados em caixas. Não posso enviá-los no saquinho. Infelizmente a senhora terá que procurar em outra agência do correio.

Então me lembrei de um acessório que tenho sempre na bolsa para estas ocasiões: tirei meu nariz de palhaço (aquela bola vermelha) coloquei e pedi para que ela repetisse que após 50 minutos na fila eu teria que me dirigir a outra agência do correio porque eles não tinham me informado... E desfiei o rosário como se diz popularmente.


A fila já se estendia na calçada. A senhora com atendimento preferencial ainda estava escolhendo os cartões.
Lembro novamente que ela veio dirigindo, logo está apta a dirigir, porém não pode esperar sua vez na fila.
Sabe o que falta: Bom senso! Respeito humano. Solidariedade.

Chego em casa e encontro um aviso de tentativa de entrega dos Correios. Vieram me trazer o presente que meu amigo secreto me enviou. Louca para saber quem era fui olhar os horários para poder retirar lá na agencia onde eu estava até agora, e qual não foi minha surpresa quando li:
“Caso queira retirar a encomenda poderá comparecer na unidade das 10h às 11h.”

Prefiro nem comentar!

5 comentários:

Unknown disse...

Sensacional sua estória. me divertir bastante ao ler. Vc. teve muito auto controle pois eu no seu caso teria explodido pois sou um pouco pavio curto. Vc. realmente é incrivel. Estou lhe aguardando para que possamos interagir. Carinhosamente, Biarates

Cybele Meyer disse...

Obrigada Bia pelo carinho do comentário.
Esta situação exige mesmo muito da nossa paciência rssss
Enfim, precisamos compartilhar para ver se mudamos esta realidade.
beijinhos e volte sempre.

Eliane disse...

fiquei com medo de entrar na fila quando li"IR PARA FORMULARIO DE COMENTÁRIO" rsrsr É fala-se que natal é um tempo mágico , mais humano e feliz.. Mas ser competente também é uma forma de se ser mais humano, buscar facilitar a vida daqueles que de nós dependem, principalmente em um correio também é uma forma de se fazer feliz . Tens toda a razão em desabafar , penso que devias mandar também sua opinião para o gerente do correio, quem sabe ele se envergonha e colaca mais funcionários, com melhor treinamento e eficácia! Um beijo minha querida!!!

Robson Freire disse...

Olá Cybele

Que texto maravilhoso!

Que auto-controle o seu, pois no seu caso eu iria intervir na forma de atendimento indo ao gerente e fazendo uma reclamação por escrito (fato quer fiz em minha cidade, onde alias sou o terror dos carteiros) e cobrando solução do problema registrado ou diante da continuidade do problema eu iria buscar soluções jurídicas.

Mas o que conta é que você expôs um problema que ocorre não somente ai, aqui ou acolá mas um problema que acontece no Brasil inteiro.

O mal atendimento em repartições públicas é gritante, existe um despreparo para lidar com o público em geral que as vezes ultrapassa o limite da boa educação.

Somente fazendo valer os nossos direitos e cobrando eficiência dos serviços e de seus funcionários e que teremos um pais necessariamente mais eficiente.

Parabéns pela postagem

Cybele Meyer disse...

Olá Robson e Eliane,

Vocês têm toda razão. Já enviei uma reclamação por escrito mencionando o ocorrido e inclusive citando o post do blog. Protocolei na agencia e agora vamos esperar o desenrolar do processo.
Temos exercer a cidadania em prol de um futuro melhor.
Adorei os comentários.
Beijinhos aos dois
Voltem sempre!